terça-feira, 21 de outubro de 2014

Crônicas de Altair Malacarne - Dois Estadinhos




Se o Espírito Santo tivesse ficado com todas as terras previstas em seu documento de criação como Capitania Hereditária, em 1532, hoje nosso território pegaria a maior parte do estado de Minas Gerais e iria até o interior do estado de São Paulo. Mas, veio a história e ficamos reduzidos a pequeno espaço, 'um curral', como dizia meu pai.

Um 'curral' dividido ao meio pelo grandioso rio Doce.

Rio Doce que marca um limite isogeotérmico entre o sul e o norte de nosso pequeno/grande estado. As conformações meteóricas trazidas pelas alterações climáticas provocadas pelas frentes-frias vindas da Argentina (pólo sul) chegam geralmente, no Espírito Santo, até o curso do rio Doce. Agora mesmo, as chuvas que caíram no sul do Estado não aconteceram aqui, ao norte estadual do rio Doce. Definitivamente, estamos incluídos na região climatérica do rio Jequitinhonha, o tristemente famoso 'polígono da seca'. Não é a-toa que o governo federal já reconheceu isto em documentos oficiais, até mesmo para efeito bancário.

Ao contrário do que muita gente pensa, isto não é novo. Em carta de 02 de novembro de 1927, o agrimensor José Mirabeau Fernandes Calmon disse a Bertolo Malacarne:

"O terreno do S. José todo verificado, só faltando medir os restantes que deixei de medir, por ter secado todos os córregos, ficando com água só o S. José, ..."
(MALACARNE, Altair, HISTÓRIA DA ORIGEM DE SÃO GABRIEL DA PALHA, Gráfica Cricaré, Nova Venécia, 2.000).


Dentro de nossos exíguos limites, se configuram dois estadinhos no que toca ao regime de chuvas: um abaixo do rio Doce; ali há mais precipitação não só causada pelas frentes frias, mas também pelas variações de altitude no panorama orográfico; outro ao norte, onde são escassas as chuvas frontais e os ambientes ficaram senegalescos com a retirada das matas; quem mora em Colatina fica mais exposto aos extremos das intempéries.
Altair Malacarne
SGP, 18.11.2007 e 20.10.2014

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