Ela
é assunto proibido no meio dos Harleyros. Seja pela rejeição natural da tribo
às outras marcas ou devido à algo mais, algo próprio dela. Quando, por um
motivo ou outro, seu nome vem à tona no grupo, alguns, mais afoitos,
apressam-se em atacá-la, denegrindo sua fama como fizeram com Geni, na música
do Chico. Outros, mais comedidos e, talvez, por conhecerem melhor sua natureza
e saberem com mais propriedade do que ela é capaz, preferem o não incriminador
silêncio.
Mas
fato é que ela suscita no Harleyro (talvez por que este conheça e goste de boas
máquinas) os desejos mais íntimos, as fantasias mais proibidas, algo que a
“patroa” não é capaz de lhe proporcionar, ou não na mesma forma e intensidade.
Certa
vez, um colega (que resolveu assumi-la), disse que o que nela lhe encantava era
a silhueta frontal, cujos cilindros, simétricos e opostos lembravam-lhe os
seios, e que seus dois logos no tanque mais pareciam os olhos azuis da mulher
amada.
Em
outra oportunidade, um irmão apareceu com “a outra” em uma conhecida e
respeitada confraria na Praia do Suá, Vitória. Trataram logo de cobri-la dos
pés à cabeça com o manto sagrado da patroa, afinal sua ostentação ali era um
ultraje.
Exageros
e piadas à parte, fato é que ela exerce um estranho sentimento no Harleyro,
misto de desejo e pecado, fascínio e traição, pois como conciliar as duas? A
patroa não admite concorrência! Ela tem personalidade forte, espírito de águia!
E o Harleyro tem a fidelidade islâmica, e a pena para as “espetaculosas” é o
apedrejamento, até a morte.
Frente
à este paradoxo, o Harleyro segue sua sina, cultuando e mistificando aquela que
lhe proporciona ser quem ele é, mantendo seu status e poder patriarcal, e, ao
mesmo tempo, admirando em silêncio aquela que é capaz de levar seus “senhores”
ao prazer extremo fora da trivialidade do asfalto, até os mais longínquos e
inacessíveis pontos do planeta.
Que leitura fabulosa...
ResponderExcluirAdorei as fotos
Prezado Dutra, obrigado pelas generosas e gentis palavras. Forte abraço.
ExcluirMuito bem elaborado o texto.
ResponderExcluirO incontrolável desejo do ser humano em provar o novo, para assim ter a certeza de que aquilo que possui já lhe basta e satisfaz.