segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

TABU


Ela é assunto proibido no meio dos Harleyros. Seja pela rejeição natural da tribo às outras marcas ou devido à algo mais, algo próprio dela. Quando, por um motivo ou outro, seu nome vem à tona no grupo, alguns, mais afoitos, apressam-se em atacá-la, denegrindo sua fama como fizeram com Geni, na música do Chico. Outros, mais comedidos e, talvez, por conhecerem melhor sua natureza e saberem com mais propriedade do que ela é capaz, preferem o não incriminador silêncio.
Mas fato é que ela suscita no Harleyro (talvez por que este conheça e goste de boas máquinas) os desejos mais íntimos, as fantasias mais proibidas, algo que a “patroa” não é capaz de lhe proporcionar, ou não na mesma forma e intensidade.
Certa vez, um colega (que resolveu assumi-la), disse que o que nela lhe encantava era a silhueta frontal, cujos cilindros, simétricos e opostos lembravam-lhe os seios, e que seus dois logos no tanque mais pareciam os olhos azuis da mulher amada.
Em outra oportunidade, um irmão apareceu com “a outra” em uma conhecida e respeitada confraria na Praia do Suá, Vitória. Trataram logo de cobri-la dos pés à cabeça com o manto sagrado da patroa, afinal sua ostentação ali era um ultraje.
Exageros e piadas à parte, fato é que ela exerce um estranho sentimento no Harleyro, misto de desejo e pecado, fascínio e traição, pois como conciliar as duas? A patroa não admite concorrência! Ela tem personalidade forte, espírito de águia! E o Harleyro tem a fidelidade islâmica, e a pena para as “espetaculosas” é o apedrejamento, até a morte.
Frente à este paradoxo, o Harleyro segue sua sina, cultuando e mistificando aquela que lhe proporciona ser quem ele é, mantendo seu status e poder patriarcal, e, ao mesmo tempo, admirando em silêncio aquela que é capaz de levar seus “senhores” ao prazer extremo fora da trivialidade do asfalto, até os mais longínquos e inacessíveis pontos do planeta.




3 comentários:

  1. Que leitura fabulosa...
    Adorei as fotos

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    1. Prezado Dutra, obrigado pelas generosas e gentis palavras. Forte abraço.

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  2. Muito bem elaborado o texto.
    O incontrolável desejo do ser humano em provar o novo, para assim ter a certeza de que aquilo que possui já lhe basta e satisfaz.

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