domingo, 12 de maio de 2013

Crônica de Altair Malacarne - Don Corleone








"DON CORLEONE

Esse nome foi dado ficticiamente a um bode que descansava molemente numa calçada da rua poeirenta de Todos os Santos, no asfalto que vai de Nova Venécia a  Vila Paulista.
Era o dia 04.06.2007; meu filho Ricardo, nas suas andanças jurídicas, passava por aquele asfalto com cheirinho de novo, sob um sol capixaba  noroestino,  quando chegou à modorrenta vila de Todos os Santos; já na saída do aglomerado, a cena lânguida: um bode fazia sua sesta  todo refestelado; parou e captou na Sony aquele momento morfético  e   bucólico; o bode acordou, mas ele continuou clicando; não se incomodou com a contrariedade do barbaco, tirado de sopetão de seu nirvana onírico; a cena era plena de eloquência que merecia e devia ser registrada; não é todo dia que uma vida entra em dormência e se torna por demais desejada.
Quando vi aquela imagem, ela entrou pela retina e ficou indelevelmente arquivada em alguma sinapse de minha cabeça; fiquei com inveja de não poder facilmente entrar num transe daquele; só quem tem uma vida tranquila e doce, desfrutando da amizade  dos outros seres viventes encontra um céu daquele na sua caminhada; me lembrei do bode de Jaciguá, que durante muitos anos viveu abastecido na barriga e na mente pelo carinho que lhe devotava o aleijado que ele transportava pelas ruas da antiga povoação; a mesma sintonia de afeto devia existir em Todos os Santos entre alguém e aquele pode.
O ser humano tem uma vida privilegiada pelas noblesses à sua mão. Há muitas outras formas de vida ao nosso redor; são seres que seguem uma programação à moda de um ‘soft’ de computação, elaborado para atingir uma finalidade, sem possibilidade de articulação ou reprogramação; por isso mesmo eles cumprem os seus estágios e particulares sem os escrúpulos e males  de nossa condição ou condicionamento. Don Corleone, dormitando, era a imagem de um ser cumprindo o fim determinado pelo mistério; longe das preocupações e dos males de seus vizinhos.

Altair Malacarne"


  • O Bode de Jaciguá: Chico do Bode.




2 comentários:

  1. Boa noite!
    Sr Altair, gostaria de saber seu e-mail p/ ter contato com o Sr. Se for possível meu e-mail é marcosrembinski@hotmail.com.
    Abraço!

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    1. Prezado Marcos, vou repassar seu comentário ao Professor Altair, que certamente irá respondê-lo. Atenciosamente.

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