UM CAMINHÃO ALFA-ROMEO
Em 1950 já tinha estrada de carro entre Colatina, Barra de
São Francisco e Nova Venécia (ES); as carretas INTERNATIONAL e FORD a gasolina passavam todo dia na rua
empoeirada de São Domingos (do Norte) levando árvores inteiras para serem
serradas em Colatina; eram momentos de alegria e encantamento escutar de longe
aquelas furonas gemendo e carregado um peso enorme, lotado com alavancas de aço
e espeque de ipê por aqueles homens de aço que ainda viajavam em cima das
longas toras; e o precioso café produzido nas humosas terras descobertas com as
derrubadas era levado também por camiõezinhos a gasolina, geralmente
americanos; a glória de um toco era quando ele conseguia arrastar 120 sacas piladas;
na subida do Canaã, às vezes, os ajudantes
eram obrigados a saltar e subir a pé, carregando um ‘macuco’ para uma
emergência.
Um dia pintou na boca da rua de São Domingos do Norte um caminhão gigante; e o
motor do bicho fazia um barulho enorme, provocava uma trepidação que tremia os
para-lamas da boleia; eu e a meninada da
escola corremos; pra onde ia aquele mamute? Mas, de repente, ele deu um espirro
grande e parou; de dentro da cabine saíram uns truculentos e começaram a
descarregar tudo no canto da rua: tecidos, remédios, garrafas dentro de sacos, espingardas, munições,
o diabo; e o povo chegando; então, os estranhos começaram o oferecer, por
preços tentadores; ficaram ali por uns 3 dias, prazo bastante pra novidade se
espalhar e a mercadoria quase acabar.
Fiquei sabendo depois: era um arranjo importado da Itália por
gente interessada em construir aqui uma indústria nacional de ‘brutos’, que se tornariam famosos disfarçados com o
nome de FENEMÊ; eles não saem mais; temos outros ‘brutos’ inclusive de origem
americana; os ALFA-ROMEO, no entanto, deixaram muitos ‘órfãos’, hoje reunidos
em clubes de ‘ALFEIROS’.
Altair Malacarne
SGP, 16.12.2013